Nossa mente é uma grande contadora de histórias. Não no sentido pejorativo, como costumamos brincar com as histórias de pescadores, não é isso... O que falo aqui é que nossa forma usual de nos relacionar com o que vivemos, é por meio de algo que podemos chamar de histórias mentais: nossas interpretações, nossas crenças, nossas formas de dar significado ao que vivemos. E repetidamente passamos a contar essas histórias para nós mesmos. E, tudo que se repete, se fortalece.
Tudo bem nossa mente ser assim. Mas em alguns pontos podem trazer sofrimentos...
Muitas vezes, essas histórias são influenciadas por nossos egos, pela a visão que temos de nós mesmos, por julgamentos, pela nossa cultura, nossas vozes autocríticas. Esse sofrimento pode ser maior ou menor, a depender do tom, do teor da história, e de mais um fator importante: a superidentificação.
Na medida em que nossa mente cria uma história sobre algo que vivemos, podemos nos superidentificar, “colar” nela e permanecermos rígidos ali. Quando nossa mente conta uma história de quem somos (por exemplo, “eu sou uma pessoa ansiosa”) e superidentificamos com isso, ficamos presos e podemos passar a acreditar que realmente somos isso.
Assim, podemos nos afastar de quem realmente somos ou queremos ser. Nesse exemplo, ao invés de usar “eu sou ansioso”, por que não usar “eu estou ansioso”? Vale a reflexão, pois se é assim que eu sou, como no primeiro exemplo, meu olhar sobre as coisas passa a ter esse viés, e dificilmente vemos possibilidades de mudança. É muito comum ouvir uma pessoa falando sobre o sofrimento com ansiedade, e acrescentar ao final “mas sou ansioso mesmo, faz parte!”. Quase como um “não vai mudar”.
A superidentificação com essas histórias também traz fechamento, pois assim não conseguimos olhar com novas perspectivas, ter novos olhares, novas possibilidades para o que vivemos. Ao invés de flexibilidade, há maior fechamento, prejudicando nossa própria sabedoria.
Então, o convite é para que você possa tentar observar a si mesmo(a) por alguns instantes... identificar qual é (ou quais são) a(s) história(s) que conta para si, em especial sobre si mesmo(a) e os eventos de sua vida. Quão recheadas de humanidade, de compreensão, de bondade e de sabedoria podem estar? Ou quão enviesada por julgamentos, autocríticas, dureza, aspectos culturais? Qual o tom com que conta essa história, há maior gentileza em sua voz interna, ou há maior severidade?
Ao estar plenamente consciente, atento(a) ao que surge de maneira mindful, é possível treinar uma nova relação com essas histórias. Observá-las como um fenômeno da mente, se desprender, e momento a momento poder escolher cultivar uma versão mais sábia e compassiva para as histórias que sua mente conta sobre si e sua vida.
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